quarta-feira, 26 de maio de 2021

Quatro tarefas para o país continuar crescendo após a onda das commodities.

Gazeta do Povo

A alta nas commodities está impulsionando as exportações brasileiras. No acumulado dos cinco primeiros meses do ano, as vendas totais do país (incluindo outros produtos) atingiram US$ 109,1 bilhões, 31% a mais do que em igual período de 2020, aponta a Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

Os impactos são sentidos no PIB. A produção de matérias-primas é um dos fatores que impulsionaram a economia no primeiro trimestre, que fechou com alta de 1,2% sobre os três últimos meses de 2020. O ponto médio das projeções de instituições financeiras para a expansão do PIB em 2021 já chega perto de 4%, segundo o relatório Focus, do Banco Central. E muitos bancos já apostam em crescimento de 5% ou mais.

Mas esse ritmo de crescimento, que pode ser o maior da economia brasileira desde 2011, deve ter fôlego curto, a julgar pelas expectativas das mesmas instituições. A mediana divulgada pelo Focus para os próximos anos é de expansão de 2,25% em 2022 e de 2,5% em 2023 e 2024.

Conseguir taxas maiores de crescimento após esse movimento favorável das commodities vai depender de uma série de fatores, apontam economistas ouvidos pela Gazeta do Povo.

“Só com uma política de gastos mais eficientes, um melhor ambiente de negócios e uma agenda de reformas conseguiremos ter um crescimento mais robusto”, diz Patrícia Krause, economista para a América Latina da Coface, que atua no segmento de seguro para crédito.

1. Melhorar o ambiente de negócios
No ambiente de negócios, o Brasil ocupa a 124.ª posição em um ranking que tem 190 países, segundo dados da pesquisa Doing Business, feita anualmente pelo Banco Mundial. As melhores posições do Brasil estão em execução de contratos (58.ª) e proteção dos investidores minoritários (61.ª). As piores: obtenção de alvará de construção (170.ª) e pagamento de impostos (184.ª).

Com o objetivo de melhorar o ambiente de negócios, o governo encaminhou ao Congresso, no final de março, a MP 1.040. A medida ataca principalmente dois pontos: de um lado, flexibiliza licenças de importação; do outro, acaba com um sistema burocrático de informações que era usado por empresas que exportam e importam.

As medidas complementam a Lei de Liberdade Econômica, um conjunto de ações para desburocratizar e facilitar a vida de quem quer empreender, que entrou em vigor em setembro de 2019.
Mas não basta só isso, diz o professor Mauro Rochlin, da Fundação Getulio Vargas (FGV). “Temos uma série de problemas estruturais: a política comercial precisa ser menos protecionista, questões educacionais têm implicações negativas sobre o crescimento e há um baixo investimento em pesquisa e desenvolvimento [P&D].”

2. Estimular o emprego
O economista Fábio Astrauskas, da Siegen Consultoria, aponta que outro desafio é investir na geração de empregos. Apesar de, segundo o Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), terem sido criados 958 mil postos de trabalho com carteira assinada no primeiro quadrimestre, a taxa de desocupação está elevada. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no primeiro trimestre ela chegou a 14,7%, a maior da série histórica iniciada em 2012.

“Precisaríamos ter entre 105 e 110 milhões de pessoas ocupadas para termos uma taxa de crescimento maior”, calcula Astrauskas. Na média de janeiro a março, eram 85,7 milhões os ocupados, de acordo com o IBGE, 6,6 milhões a menos que em igual período de 2020.

3. Facilitar a atração do capital estrangeiro
Outra necessidade, segundo Astrauskas, é facilitar a atração de capital estrangeiro. Influenciado pela pandemia, o investimento direto no país caiu em 2020. Ele encolheu 51% em 2020, para US$ 34,2 bilhões, o equivalente a 2,37% do PIB, segundo o Banco Central. Foi o menor valor desde 2009, ano dos principais impactos da crise do subprime.

Ainda que a pandemia tenha afetado o mundo todo, há indícios de que o interesse de investir no Brasil diminuiu muito em relação a outros países. Estudo feito pela consultoria internacional Kearney mostra que o país vem perdendo relevância entre as economias mais importantes. Em 2015, o país ocupava o sexto lugar nas perspectivas de investimento direto estrangeiro em um horizonte de três anos. No ranking de 2021, caiu para a 24.ª posição.

4. Prosseguir com as reformas
Também é preciso investir no andamento das reformas, principalmente a tributária, diz o economista da Siegen Consultoria. A administrativa, por sua vez, ajudaria a dar mais clareza para a situação fiscal.

“É preciso rever a alíquota dos mais pobres e dos mais ricos. Uma boa alternativa é focar na renda e no patrimônio. São melhores instrumentos para controlar a evasão fiscal. A alíquota incidente sobre o consumo é maior no Brasil do que em outros países.”

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