segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Movimento islamofóbico Pegida faz um ano, fortalecido por crise migratória

O movimento dos Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente (em alemão, Pegida) foi lançado em 20 de outubro de 2014 na capital da Saxônia, na antiga Alemanha comunista.
Simpatizantes do movimento Pegida exibem um cartaz que retrata a chanceler alemã, Angela Merkel, vestindo um uniforme com braçadeira e bandeira com o símbolo da moeda única da comunidade europeia, em Dresden, 1º de junho de 2015. Foto: Jens Schlueter/AFP/Arquivos

Agonizante durante algum tempo, o movimento islamofóbico alemão Pegida, que completa um ano nesta segunda-feira, ganhou força com a crise dos refugiados que alimenta seu discurso cada vez mais radical. "Os cidadãos não deveriam seguir quem vai às ruas cheio de ódio e hostilidade para com os demais", disse a chanceler alemã, Angela Merkel, em entrevista publicada neste sábado no jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung.

O líder do Pegida, Lutz Bachmann, convocou seus seguidores a uma nova manifestação nesta segunda-feira, em Dresden (leste). O movimento dos Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente (em alemão, Pegida) foi lançado em 20 de outubro de 2014 na capital da Saxônia, na antiga Alemanha comunista, por este ex-delinquente de 42 anos, mas não tem mais "nada a ver" com o que era, explicou à AFP Nele Wissmann, pesquisadora do Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri).

Inicialmente, era "mais para 'antiestablishment'" e estava composto por um núcleo de extrema-direita e muitos eleitores decepcionados com os partidos tradicionais. Mas desde este outono, radicalizou-se para se tornar um movimento de ultradireita (...), centrado nos refugiados", acrescentou. Símbolo deste endurecimento foi a forca exibida durante a última manifestação na segunda-feira, "reservada" a Merkel e ao seu vice-chanceler Sigmar Gabriel. A imagem causou indignação na Alemanha e desatou a abertura de uma investigação.

Há algumas semanas, a líder alemã se tornou o alvo preferido do Pegida, oposto à sua política de mão estendida aos refugiados. O Pegida registrou um avanço fulgurante no inverno de 2014-2015, passando de algumas centenas de simpatizantes no fim de outubro para 25 mil manifestantes no fim de janeiro, depois dos atentados jihadistas contra o jornal francês Charlie Hebdo.

Os manifestantes atacaram o Islã, os estrangeiros e os refugiados. Marcharam sob o lema "Somos o Povo", entoado antes da queda do Muro de Berlim pelos opositores ao regime da antiga Alemanha comunista. Meses depois, minado por disputas internas e pelas extravagâncias de seu líder, Lutz Bachmann, o movimento viveu momentos de ostracismo, com atos pouco concorridos, realizados diante de uma indiferença quase generalizada.

Sua presença em outras cidades alemãs também diminuiu e as tentativas de exportação para Áustria, Suécia ou Dinamarca tampouco prosperaram. No verão, muitos observadores não apostavam nada no Pegida. Mas, então, entrou em jogo a crise migratória. A Alemanha prevê abrigar entre 800 mil e um milhão de pessoas em 2015.

Em 7 de setembro, o movimento reuniu 5 mil pessoas em Dresden. Nas semanas seguintes, os números continuaram subindo, estabilizando-se entre 7,5 mil e 9 mil manifestantes, segundo estimativas. Levando em conta o contexto migratório, que poderia ter permitido ao movimento atrair muita gente, trata-se de "um renascimento pequeno", relativiza Timo Lochocki, analista do centro de análises German Marshall Fund.

"Vacinados" contra o Pegida
Para Nele Wissmann, no entanto, o estopim aconteceu em 4 de setembro, quando Merkel abriu as fronteiras para deixar os migrantes que chegam da Hungria passar para a Alemanha."O tema (dos refugiados) está em todas as partes. O Pegida aproveita (esta) situação e certa confusão no governo, no qual Merkel começa seriamente a se ver criticada por seu próprio campo" conservador por sua política de portas abertas, acrescentou a pesquisadora.

Os ataques cometidos nos últimos meses contra os centros de acolhida para refugiados, sobretudo no leste do país, preocupam as autoridades. Elas temem que a radicalização crescente de grupos como o Pegida desemboque em violência ou terrorismo de extrema-direita, uma hipótese considerada possível pelos serviços de inteligência alemães.

O futuro do Pegida talvez vá ser decidido nas urnas: o movimento já apresentou uma candidata em junho passado em Dresden (10%) e Lutz Bachmann anunciou a intenção de fundar um partido. Mas, por sua história, "os alemães estão vacinados contra um movimento como o Pegida", diz Nele Wissmann. "Radicalizando-se, o Pegida excluirá os contrários à violência e, portanto, continuará sendo minoritário".

Fonte:Diário de Pernambuco

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