segunda-feira, 21 de março de 2016
Mudança climática modifica períodos de elaboração do vinho
A mudança climática alterou um dos períodos fundamentais na elaboração do vinho em regiões da França e Suíça, o que pode causar uma variação no tempo e nas técnicas de produção, revelou um estudo divulgado nesta segunda-feira pela revista "Nature".
A pesquisa, desenvolvida pelo Instituto da Terra da Universidade de Columbia (EUA), apresenta uma prova a mais de que o aumento das temperaturas em nível global está afetando os sistemas biológicos e a agricultura de uma maneira muito local.
Os autores lembram que vários fatores influenciam na elaboração de bons vinhos, como a variedade da uva, as práticas de vindima, a localização do vinhedo e a qualidade da terra e, certamente, o clima, cujas variações a cada ano têm uma grande incidência.
Em algumas regiões francesas e suíças, especialmente aquelas com temperaturas relativamente mais baixas do que outras zonas vinícolas, os melhores anos são os que desfrutam de primaveras de abundantes chuvas, seguidos por verões excepcionalmente calorosos e de uma última etapa de seca.
Quando ocorrem todas estas circunstâncias, a uva amadurece mais rapidamente e os agricultores têm uma colheita antecipada em zonas vinícolas reconhecidas como a Alsácia, Champanhe, Borgonha e Languedoc.
No entanto, este estudo demonstra que o aquecimento global eliminou praticamente da citada equação a fase da seca, o que já provocou mudanças em técnicas centenárias de elaboração do vinho.
Os especialistas explicam que o tempo da vindima é marcado pela temperatura registrada no ano e seu aumento nas últimas três décadas antecipou progressivamente a data das colheitas no mundo todo, desde Austrália e Califórnia até América do Sul e Europa.
Na França, onde são feitos registros há 400 anos, sabe-se que a vindima se antecipou em duas semanas desde a década de 80, aponta a pesquisa, que contou com a colaboração da Universidade de Sonoma (Califórnia) e de Harvard (Massachusetts).
Apesar da mudança climática, estas regiões mais frias seguiram produzindo vinhos de grande qualidade com uvas da variedade "Pinnot Noir" e "Chardonnay", mas se o termômetro continuar subindo, podeam ser obrigadas a recorrer ao tipo de fruta usado em zonas mais quentes, a modificar suas técnicas tradicionais e, inclusive, a mudar para outros vinhedos.
"Embora haja gente ainda cética com relação à mudança climática, ninguém é na indústria vinícola. Todo o mundo acredita nisso porque vivem a cada ano. Está aqui, é real, não vai desaparecer", garantiu Liz Thach, da Universidade Estadual de Sonoma.
Para este estudo, os cientistas analisaram dados climatológicos do passado e presente século, assim como registros vinícolas tomados desde 1600, e constataram que nas citadas regiões da França e Suíça as vindimas antecipadas sempre ocorreram após uma temporada de temperaturas mais altas do que a média e de uma última etapa de seca.
Em condições normais, a evaporação da umidade desprendida pela terra contribui para esfriar a superfície do terreno, mas a seca reduz essa condensação e provoca o aquecimento da zona cultivada.
Até há cerca de 30 anos, os vinhedos não alcançavam a temperatura necessária para conseguir uma vindima antecipada sem a "ajuda" da fase de seca.
Desde então, o aquecimento global elevou as temperaturas estivais e já não é necessário esperar até a última etapa de amadurecimento da uva para realizar sua coleta.
Em toda França, por exemplo, a temperatura subiu em torno de 1,5 grau centígrado durante o século XX, uma tendência de alta, advertem, que se mantém no novo milênio.
Por enquanto, as citadas regiões continuaram elaborando grandes vinhos, já que "um bom ano continua sendo um ano caloroso", destacou Elizabeth Wolkovich (Harvard).
No entanto, a autora lembrou que 2003, o ano da vindima mais antecipada já registrada (um mês antes), não produziu vinhos excepcionais, "o que pode indicar para onde nos dirigimos".
"Se as temperaturas seguirem subindo -acrescenta- os vinhedos não serão capazes de suportá-la para sempre".
Fonte: Exame
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