Conselho de empresários calcula estoque de US$ 80 bi, quase metade em energia
BRASÍLIA – Principal parceiro comercial do Brasil, a China é mais do
que um comprador de commodities brasileiras. Até 2018, o estoque de
investimentos chineses no país somou cerca de US$ 60 bilhões, mas pode
ter chegado a US$ 80 bilhões neste ano, deixando o país asiático próximo
aos maiores investidores externos no país, grupo liderado pelos Estados
Unidos e países europeus.
Os dados e a estimativa são do Conselho Empresarial Brasil-China
(CEBC), que usa diversas fontes como o Ministério de Comércio da China,
Banco Central e outros institutos internacionais para fazer o seu painel
de investimentos.
Nos cálculos da CEBC, desse estoque de investimentos, pelo menos
metade se destinou ao setor de energia, por meio de gigantes como
StateGrid e Three Gorges, ambas bastante atuantes no segmento de
infraestrutura energética.
— Na última década, o estoque de US$ 80 bilhões tornou a China o
principal investidor no Brasil. Em energia, os investimentos foram
significativos em geração, transmissão e distribuição e é dinheiro de
longo prazo, ou seja, não especulativo. Nossa relação é estrategicamente
baseada no longo prazo — destaca o presidente do CEBC, Luiz Augusto de
Castro Neves.
Segundo levantamento do CEBC, o fluxo de investimentos chineses no
Brasil pode ser dividido em quatro fases. Até 2010, as empresas chinesas
tinham maior interesse no setor de commodities, tendo em vista a
crescente demanda do país asiático por produtos como petróleo, minérios e
soja.
Em seguida, até meados de 2013, os principais aportes marcaram uma
etapa voltada para a área industrial, com foco na busca por mercado
consumidor.
Na sequência, a terceira fase indicou participação relevante de
investimentos em serviços, com destaque para a atuação dos bancos
chineses.
A última fase começou em 2014, momento em que passou a haver a
entrada de volumosos investimentos nas áreas de energia elétrica e
infraestrutura.
Além disso, na quarta etapa, importantes aportes em áreas com grande
potencial também foram verificados, como nos setores de óleo e gás,
agronegócio e, mais recentemente, tecnologia.
Em 2018, as incertezas econômicas e políticas frente à eleição
brasileira fizeram com que os investimentos estrangeiros caíssem 13%.
No caso do dinheiro chinês, a queda foi ainda maior, de 66%, ou seja,
entraram US$ 3 bilhões ante US$ 8,8 bilhões registrados em 2017,
segundo a metodologia da CEBC.
Os motivos foram declarações e atitudes de Jair Bolsonaro. O então
candidato à Presidência da República fez críticas diretas aos
investimentos chineses. Declarou que a China estaria “comprando o
Brasil, e não do Brasil”.
Além disso, como deputado federal fez visita oficial a Taiwan, o que
despertou indignação em Pequim. A ilha é considerada pela China como uma
“província rebelde”, sendo um tema de soberania mal resolvido entre as
duas partes e, consequentemente, um assunto delicado nas relações
exteriores da China continental.
Por outro lado, apesar de alguns atritos de ordem política e a alta
base de comparação em termos de valor dos projetos, os investimentos
chineses no Brasil demonstraram resiliência e pragmatismo.
Se considerados apenas os investimentos confirmados, houve aumento
para 30 projetos, 11% a mais do que os 27 identificados em 2017.
“Ou seja, mesmo com alguns percalços, há de se considerar que os
aportes chineses no país seguem uma estratégia indistinta de outros
investidores estrangeiros, agindo de acordo com a legislação brasileira e
orientados por uma ótica mercadológica e baseada no surgimento de
oportunidades”, diz um trecho do estudo.
Além do setor de energia elétrica, houve novos empreendimentos
confirmados em áreas ainda pouco exploradas pelos chineses, como no
segmento de tecnologia da informação, que contou com aportes da Didi, do
segmento de plataformas móveis de transporte e mobilidade urbana, e da
gigante tecnológica chinesa Tencent, que investiu na fintech de cartões
de crédito Nubank.
Infraestrutura
O setor de infraestrutura também teve investimentos confirmados em
2018, com presença de aportes na área de armazenamento e atividades
auxiliares dos transportes, por meio de inversões da PetroChina na
pernambucana TT Work e da China Communications Construction Company, que
lidera o projeto de construção do Terminal de Uso Privado Porto São
Luís, no Maranhão.
Nas contas do Banco Central, a participação da China no estoque de Investimento Direto no País (IDP) é um pouco mais modesta.
Considerando participação no capital e a China como investidor controlador final, o estoque em 2019 era de US$ 28,121 bilhões.
Na metodologia do BC, o maior investidor em estoque de IDP são os Estados Unidos, com US$ 145 bilhões no fim de 2019.
Se olharmos os números do China Global Investment Tracker, painel
compilado pela American Enterprise Institute e The Heritage Foundation,
que é utilizado pela CEBC como uma das fontes de dados, temos um estoque
de US$ 61,6 bilhões de investimentos de matriz chinesa no Brasil.
Ampliando até 2019, esse montante vai a US$ 68,6 bilhões.
Considerando o Boletim de Investimentos sobre Investimentos Chineses
no Brasil, feito pelo agora extinto Ministério do Planejamento, entre
2003 e agosto de 2018, os investimentos chineses totalizaram US$ 54
bilhões.
E olhando para o Boletim de Investimentos Estrangeiros – Países
selecionados, publicação do Ministério da Economia, elaborado pela
Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex), a China
tinha um estoque de US$ 80,5 bilhões em investimentos realizados entre
2003 e setembro de 2019.
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