segunda-feira, 30 de novembro de 2020

China caminha para ser um dos principais investidores no Brasil, com foco em infraestrutura.

Eliane Oliveira
O Globo

Conselho de empresários calcula estoque de US$ 80 bi, quase metade em energia

BRASÍLIA – Principal parceiro comercial do Brasil, a China é mais do que um comprador de commodities brasileiras. Até 2018, o estoque de investimentos chineses no país somou cerca de US$ 60 bilhões, mas pode ter chegado a US$ 80 bilhões neste ano, deixando o país asiático próximo aos maiores investidores externos no país, grupo liderado pelos Estados Unidos e países europeus.

Os dados e a estimativa são do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), que usa diversas fontes como o Ministério de Comércio da China, Banco Central e outros institutos internacionais para fazer o seu painel de investimentos.

Nos cálculos da CEBC, desse estoque de investimentos, pelo menos metade se destinou ao setor de energia, por meio de gigantes como StateGrid e Three Gorges, ambas bastante atuantes no segmento de infraestrutura energética.

— Na última década, o estoque de US$ 80 bilhões tornou a China o principal investidor no Brasil. Em energia, os investimentos foram significativos em geração, transmissão e distribuição e é dinheiro de longo prazo, ou seja, não especulativo. Nossa relação é estrategicamente baseada no longo prazo — destaca o presidente do CEBC, Luiz Augusto de Castro Neves.

Segundo levantamento do CEBC, o fluxo de investimentos chineses no Brasil pode ser dividido em quatro fases. Até 2010, as empresas chinesas tinham maior interesse no setor de commodities, tendo em vista a crescente demanda do país asiático por produtos como petróleo, minérios e soja.

Em seguida, até meados de 2013, os principais aportes marcaram uma etapa voltada para a área industrial, com foco na busca por mercado consumidor.

Na sequência, a terceira fase indicou participação relevante de investimentos em serviços, com destaque para a atuação dos bancos chineses.

A última fase começou em 2014, momento em que passou a haver a entrada de volumosos investimentos nas áreas de energia elétrica e infraestrutura.

Além disso, na quarta etapa, importantes aportes em áreas com grande potencial também foram verificados, como nos setores de óleo e gás, agronegócio e, mais recentemente, tecnologia.

Em 2018, as incertezas econômicas e políticas frente à eleição brasileira fizeram com que os investimentos estrangeiros caíssem 13%.

No caso do dinheiro chinês, a queda foi ainda maior, de 66%, ou seja, entraram US$ 3 bilhões ante US$ 8,8 bilhões registrados em 2017, segundo a metodologia da CEBC.

Os motivos foram declarações e atitudes de Jair Bolsonaro. O então candidato à Presidência da República fez críticas diretas aos investimentos chineses. Declarou que a China estaria “comprando o Brasil, e não do Brasil”.

Além disso, como deputado federal fez visita oficial a Taiwan, o que despertou indignação em Pequim. A ilha é considerada pela China como uma “província rebelde”, sendo um tema de soberania mal resolvido entre as duas partes e, consequentemente, um assunto delicado nas relações exteriores da China continental.

Por outro lado, apesar de alguns atritos de ordem política e a alta base de comparação em termos de valor dos projetos, os investimentos chineses no Brasil demonstraram resiliência e pragmatismo.

Se considerados apenas os investimentos confirmados, houve aumento para 30 projetos, 11% a mais do que os 27 identificados em 2017.

“Ou seja, mesmo com alguns percalços, há de se considerar que os aportes chineses no país seguem uma estratégia indistinta de outros investidores estrangeiros, agindo de acordo com a legislação brasileira e orientados por uma ótica mercadológica e baseada no surgimento de oportunidades”, diz um trecho do estudo.

Além do setor de energia elétrica, houve novos empreendimentos confirmados em áreas ainda pouco exploradas pelos chineses, como no segmento de tecnologia da informação, que contou com aportes da Didi, do segmento de plataformas móveis de transporte e mobilidade urbana, e da gigante tecnológica chinesa Tencent, que investiu na fintech de cartões de crédito Nubank.

Infraestrutura

O setor de infraestrutura também teve investimentos confirmados em 2018, com presença de aportes na área de armazenamento e atividades auxiliares dos transportes, por meio de inversões da PetroChina na pernambucana TT Work e da China Communications Construction Company, que lidera o projeto de construção do Terminal de Uso Privado Porto São Luís, no Maranhão.

Nas contas do Banco Central, a participação da China no estoque de Investimento Direto no País (IDP) é um pouco mais modesta.

Considerando participação no capital e a China como investidor controlador final, o estoque em 2019 era de US$ 28,121 bilhões.

Na metodologia do BC, o maior investidor em estoque de IDP são os Estados Unidos, com US$ 145 bilhões no fim de 2019.

Se olharmos os números do China Global Investment Tracker, painel compilado pela American Enterprise Institute e The Heritage Foundation, que é utilizado pela CEBC como uma das fontes de dados, temos um estoque de US$ 61,6 bilhões de investimentos de matriz chinesa no Brasil. Ampliando até 2019, esse montante vai a US$ 68,6 bilhões.

Considerando o Boletim de Investimentos sobre Investimentos Chineses no Brasil, feito pelo agora extinto Ministério do Planejamento, entre 2003 e agosto de 2018, os investimentos chineses totalizaram US$ 54 bilhões.

E olhando para o Boletim de Investimentos Estrangeiros – Países selecionados, publicação do Ministério da Economia, elaborado pela Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex), a China tinha um estoque de US$ 80,5 bilhões em investimentos realizados entre 2003 e setembro de 2019.

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