A rapidez com que a tecnologia evolui e transforma as relações entre as pessoas e o conhecimento angustia a todos que passam a maior parte do dia conectados. E inquieta também os pensadores. Com 35 obras publicadas no Brasil e cerca de 600 mil cópias vendidas, o sociólogo e pensador polonês Zygmunt Bauman, aos 89 anos, expôs, em entrevista ao programa Observatório da Imprensa, da TV Brasil, suas impressões a respeito das relações sociais “dissipadas” e do conhecimento no mundo moderno.
O intelectual “humanístico”– como Bauman é definido por seus seguidores filósofos e sociólogos – , tem entre seus livros mais conhecidos o título “Amor Líquido”, em que analisa justamente as relações na atualidade e sua maior flexibilidade. Nesse sentido, o sociólogo traz a crítica da “liquidez” para os laços sociais e destaca a ideia de que hoje, “nada é feito para durar”. Ele avalia que as ferramentas permitem que o usuário crie uma “zona de conforto” ao evitar o contraditório ou aquilo que o desagrada.
“A maioria das pessoas que usa o computador tenta criar para si o que eu chamo de zona de conforto. O único som que você escuta são ecos de sua própria voz. A zona de conforto você não pode criar na rua, você não pode criar offline, você apenas pode criar online. Porque é muito simples: é só você parar de responder a algo, parar de visitar os sites que você acha ofensivos. Você os desliga. Você não pode desligar quando você está na rua e encontra pedestres que você não gosta. Você precisa conviver com eles. É por isso que falo de tranquilizadores como o Facebook e outros meios de internet”, explica.
Nesse contexto de instantaneidade e avaliando o acesso facilitado ao conhecimento por meio da internet, o sociólogo pondera a real efetividade de compreensão das informações a que se tem acesso por meio da grande rede mundial de computadores. Ao mesmo tempo em que ferramentas como o Google nos permitem um acesso infinito ao conhecimento, Baumann diz que isso o faz sentir “humilhado”.
“Quando eu era jovem minha geração acreditava que o que nos impedia de resolver todas as questões do mundo era a ausência do conhecimento correto. Agora, eu acredito que é ao contrário, o nosso principal obstáculo é o excesso de conhecimento”.
Bauman complementa que, hoje, “somos inundados de informação, uma quantidade maior do que a capacidade de o cérebro humano de assimilar”. Segundo o intelectual, essas “dúzias de bilhões de respostas” o paralisam.
“O que eu aprendi com o Google é que eu nunca saberei o que eu deveria saber, tudo está ao alcance dos meus dedos, mas isso não significa que sou mais sábio. Me sinto humilhado ao redor dos outros. Não só por não ser mais sábio do que eu sou, mas também pela impossibilidade de adquirir a sabedoria que nos permite realmente responder a pergunta que está na nossa frente”, avalia.
Tanto o Google, quanto as redes sociais, como o Facebook, são considerados pelo sociólogo fórmulas que “nos suprem com tranquilizantes”. “Tranquilizantes para tratar as doenças das quais sofremos, como solidão, falta de conhecimento e outras”, acrescenta.
Bauman avalia que o Google “tem a maior biblioteca do mundo, mas não é a maior biblioteca de livros, é a maior biblioteca de trechos, de partes e pedaços desconectados”. Dianto disso, apesar da rapidez das pesquisas e de acesso às informações, o sociólogo questiona o fato de as novas gerações possuírem uma “maior capacidade de conhecimento”.
“Eu não acredito que nós resolvemos as questões completamente. Todas as respostas que somos capazes de dar estão destinadas a serem deixadas para trás, superadas”, pontua.
Para o filósofo, o que é oferecido, em termos de informação, por recursos como o Google, é uma grande quantidade de “notas de rodapé” sobre o que se está escrevendo. “Se você tem 200 notas de rodapé está pronto, é científico, e isso te poupou um grande problema”, provoca o filósofo.
Fonte:Teciber
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