terça-feira, 12 de abril de 2016

Legião Urbana XXX anos: Como se descreve o indescritível?

Já tentou descrever o nascimento de um filho? Ou um salto de paraquedas? Ou um orgasmo?

Mesmo tendo em mente que será difícil, vou tentar contar aqui como foi a experiência de assistir ao Show da Legião Urbana na última semana (08/04) no Aramaçan, em Santo André, SP. Para os céticos, quero dizer que eu não estou comparando a emoção do nascimento dos meus filhos ao show, o que busco tentar explicar é que algumas coisas, mesmo para o melhor ou mais experiente escritor, nunca haverá como passar ao leitor a emoção de estar lá.

Primeiro falar sobre as companhias, fui ao show com dois amigos de década, na verdade, amigos de quase vinte anos, que me acompanharam durante muito tempo na minha vida e que se afastaram por causa do curso natural da vida, mas pessoas que eu gostaria que estivessem sempre presentes no meu dia a dia. Porém, não se tratava só dessa amizade, além disso, os dois amigos fizeram parte da minha vida no momento mais legionário que vivi, um período que eu não fazia outra coisa a não ser ouvir e tentar tocar Legião (minha família só faltava fazer uma intervenção). Aprendemos, tocamos e fizemos barulhinho juntos no violão por muito tempo, até chegamos a ter uma banda cover, que fez algumas aparições em público.

Depois, o show foi em Santo André, cidade onde me criei, mas o melhor é que o Aramaçan, lugar do show, é pequeno, então embora o show estivesse lotado – e estava – não deu trabalho para chegar ao local e nem para ir embora – comparando com lugares maiores, claro. Além de tudo, 8 de abril, que foi a data do show, era feriado na cidade, o que tornou tudo ainda mais fácil, porque quem não foi ao espetáculo estava provavelmente em casa, deixando até o trânsito livre, tinha tudo pra dar certo, e deu.

Bom, mas e o show? Essa é a parte difícil de explicar.

O show começou com quase 4 horas de atraso, o que é insignificante para quem esperou por 20 anos, Dado Villa Lobos explicou que foi problema de organização, mas de verdade é irrelevante. Contudo, o curioso é que antes de começar, um dos meus amigos me contou parte da ordem das musicas e eu disse à ele que era desnecessário tocar o primeiro CD inteiro, que poderiam escolher outro melhor, só que quando começou, em instantes eu já estava totalmente rouco, parecia que algo tomou conta da minha voz e me fez cantar tão alto e forte, que por um instante nem fazia diferença que o Renato Russo não estava lá, nem que eu estava rodeado de pessoas, porque o público, assim como eu, trazia de dentro uma voz calada há duas décadas e cantou tão alto e forte, que fez o lugar tremer. O primeiro CD acabou que eu nem percebi, onze músicas se passaram e  mal havia começado, e não é que cantei todas as 11 músicas e a maioria eu nem lembrava que conhecia?!

A banda estava animada, cantou como se fosse o único show que eles fariam nessa turnê, o público era de fãs, desesperados para ouvir e ver a banda favorita de muitos dali. Os meninos que estavam no palco já não eram tão meninos assim, mas tocavam com entusiasmo de quem estava ali porque gostava do que estava fazendo, acreditava no estava que cantando e com uma energia positiva contagiante, que chamava o público para cantar junto e em diversas partes do show desceu até a grade.

Logo vieram ao palco os grandes sucessos, músicas mais tocadas de cada CD, todas em suas versões originais, inclusive Teatro dos Vampiros, que todos esperavam acústica, com exceção de Pais e Filhos, que trouxe junto Stand By Me, como de costume nas versões ao vivo. Tecnicamente, uma banda renovada, detalhista e caprichosa, que se preocupou em levar uma qualidade de som de primeiro nível, competindo no volume de som com o público, que foi à loucura com Tempo Perdido, Faroeste Caboclo e Que Pais é Este, que trouxe com ela uma reclamação do Dado sobre o governo do Rio de Janeiro.

E tinha o baixista, que além de muito bom tecnicamente, estava lá com muita vontade, tocou com empolgação da primeira até a última música. Pela sua movimentação durante o show, parecia que tocava a música mais complicada que existe, com uma vontade de dar inveja, como um fã de verdade faria.

E a falta de Renato Russo? Não senti. André Fratelli fez um trabalho incrível, junto com Dado, Bonfá a banda e os outros convidados. Mas mesmo que não fizessem, o Renato Russo se foi e deixou um legado, que foi levado a diante mesmo depois de 21 anos sem nenhum show, que deixa a Legião entre as bandas mais procuradas nos sites de músicas e cifras para violão (no Cifraclub hoje é 3° e já esteve em 1°). Mas eu percebi que a banda não era só ele, como pensei por muito tempo. Dado e Bonfá conduziram todas as músicas como a verdadeira Legião e merecem sim, e com muito louvor, o direito de utilizar o nome da banda e de trazer ao público mais oportunidades como esta.

Por mais que eu tente, escreva, leia, reescreva, jamais vou conseguir contar na sua totalidade a sensação de estar lá, mas posso afirmar com toda certeza que a Legião Urbana está mesmo de volta e não trata-se apenas de uma banda tentando fazer cover do Renato Russo, é uma banda renovada, preparada e sobretudo, fantástica.

Se você esteve em algum show do que o Renato Russo estava, vale a pena ir ao show. Se você não foi, mas ouviu como eu todas as versões de show que se tem registro, vale a pena ir ao show. Se você é fã e tem vontade de conhecer, vale a pena ir ao show, mas se você não é fã e por curiosidade está lendo este texto, vá ao show e voltará de lá legionário.


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