Já tentou descrever o nascimento de um filho? Ou um salto de
paraquedas? Ou um orgasmo?
Mesmo tendo em mente que será difícil, vou tentar contar
aqui como foi a experiência de assistir ao Show da Legião Urbana na última
semana (08/04) no Aramaçan, em Santo André, SP. Para os céticos, quero dizer
que eu não estou comparando a emoção do nascimento dos meus filhos ao show, o
que busco tentar explicar é que algumas coisas, mesmo para o melhor ou mais
experiente escritor, nunca haverá como passar ao leitor a emoção de estar lá.
Primeiro falar sobre as companhias, fui ao show com dois
amigos de década, na verdade, amigos de quase vinte anos, que me acompanharam
durante muito tempo na minha vida e que se afastaram por causa do curso natural
da vida, mas pessoas que eu gostaria que estivessem sempre presentes no meu dia
a dia. Porém, não se tratava só dessa amizade, além disso, os dois amigos
fizeram parte da minha vida no momento mais legionário que vivi, um período que
eu não fazia outra coisa a não ser ouvir e tentar tocar Legião (minha família
só faltava fazer uma intervenção). Aprendemos, tocamos e fizemos barulhinho
juntos no violão por muito tempo, até chegamos a ter uma banda cover, que fez
algumas aparições em público.
Depois, o show foi em Santo André, cidade onde me criei, mas
o melhor é que o Aramaçan, lugar do show, é pequeno, então embora o show
estivesse lotado – e estava – não deu trabalho para chegar ao local e nem para
ir embora – comparando com lugares maiores, claro. Além de tudo, 8 de abril,
que foi a data do show, era feriado na cidade, o que tornou tudo ainda mais
fácil, porque quem não foi ao espetáculo estava provavelmente em casa, deixando
até o trânsito livre, tinha tudo pra dar certo, e deu.
Bom, mas e o show? Essa é a parte difícil de explicar.
O show começou com quase 4 horas de atraso, o que é
insignificante para quem esperou por 20 anos, Dado Villa Lobos explicou que foi
problema de organização, mas de verdade é irrelevante. Contudo, o curioso é que
antes de começar, um dos meus amigos me contou parte da ordem das musicas e eu
disse à ele que era desnecessário tocar o primeiro CD inteiro, que poderiam
escolher outro melhor, só que quando começou, em instantes eu já estava
totalmente rouco, parecia que algo tomou conta da minha voz e me fez cantar tão
alto e forte, que por um instante nem fazia diferença que o Renato Russo não
estava lá, nem que eu estava rodeado de pessoas, porque o público, assim como
eu, trazia de dentro uma voz calada há duas décadas e cantou tão alto e forte,
que fez o lugar tremer. O primeiro CD acabou que eu nem percebi, onze músicas
se passaram e mal havia começado, e não é que cantei todas as 11 músicas
e a maioria eu nem lembrava que conhecia?!
A banda estava animada, cantou como se fosse o único show
que eles fariam nessa turnê, o público era de fãs, desesperados para ouvir e
ver a banda favorita de muitos dali. Os meninos que estavam no palco já não
eram tão meninos assim, mas tocavam com entusiasmo de quem estava ali porque
gostava do que estava fazendo, acreditava no estava que cantando e com uma
energia positiva contagiante, que chamava o público para cantar junto e em
diversas partes do show desceu até a grade.
Logo vieram ao palco os grandes sucessos, músicas mais
tocadas de cada CD, todas em suas versões originais, inclusive Teatro dos
Vampiros, que todos esperavam acústica, com exceção de Pais e Filhos, que
trouxe junto Stand By Me, como de costume nas versões ao vivo. Tecnicamente,
uma banda renovada, detalhista e caprichosa, que se preocupou em levar uma
qualidade de som de primeiro nível, competindo no volume de som com o público,
que foi à loucura com Tempo Perdido, Faroeste Caboclo e Que Pais é Este, que
trouxe com ela uma reclamação do Dado sobre o governo do Rio de Janeiro.
E tinha o baixista, que além de muito bom tecnicamente,
estava lá com muita vontade, tocou com empolgação da primeira até a última
música. Pela sua movimentação durante o show, parecia que tocava a música mais
complicada que existe, com uma vontade de dar inveja, como um fã de verdade
faria.
E a falta de Renato Russo? Não senti. André Fratelli fez um
trabalho incrível, junto com Dado, Bonfá a banda e os outros convidados. Mas
mesmo que não fizessem, o Renato Russo se foi e deixou um legado, que foi
levado a diante mesmo depois de 21 anos sem nenhum show, que deixa a Legião
entre as bandas mais procuradas nos sites de músicas e cifras para violão (no
Cifraclub hoje é 3° e já esteve em 1°). Mas eu percebi que a banda não era só
ele, como pensei por muito tempo. Dado e Bonfá conduziram todas as músicas como
a verdadeira Legião e merecem sim, e com muito louvor, o direito de utilizar o
nome da banda e de trazer ao público mais oportunidades como esta.
Por mais que eu tente, escreva, leia, reescreva, jamais vou
conseguir contar na sua totalidade a sensação de estar lá, mas posso afirmar
com toda certeza que a Legião Urbana está mesmo de volta e não trata-se apenas
de uma banda tentando fazer cover do Renato Russo, é uma banda renovada,
preparada e sobretudo, fantástica.
Se você esteve em algum show do que o Renato Russo estava,
vale a pena ir ao show. Se você não foi, mas ouviu como eu todas as versões de
show que se tem registro, vale a pena ir ao show. Se você é fã e tem vontade de
conhecer, vale a pena ir ao show, mas se você não é fã e por curiosidade está
lendo este texto, vá ao show e voltará de lá legionário.
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