As exportações mundiais de serviços em 2019 alcançaram US$ 5,9
trilhões, equivalente a 30% das exportações de bens, sem agregados.
Enquanto isso no Brasil, o comércio exterior de serviços no período
representou apenas 0,46% do volume global.
“A nossa participação ainda é muito pequena, se considerarmos que o
Brasil hoje é o 12º PIB do mundo. Tem muito espaço para crescer”,
garantiu o presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, na quarta-feira, 28 de abril, na abertura do 2º Encontro Nacional de Comércio Exterior de Serviços (Enaserv).
O evento, que teve tecnologia como tema principal, foi remoto,
transmitido pelo YouTube, e contou com um público de mais de duas mil
pessoas de todas as partes do Brasil e de outros 12 países, como
Argentina, China, França, Espanha e Estados Unidos.
Para o presidente da Confederação Nacional do Comércio (CNC), José
Roberto Tadros, o crescimento do setor de serviços até aqui foi,
principalmente, resultado do investimento em novas tecnologias, e as
empresas terão que explorar cada vez mais as oportunidades com a
economia 4.0.
“Agora é o momento e a hora digital, que incrementam as relações
comerciais de forma rápida e estimula a redução da burocracia,
facilitando a integração comercial entre os povos”, atestou Tadros.
“Somos 99% das empresas do Brasil e no processo de encadeamento,
muito da exportação, sobretudo, de manufaturados é feita pela micro e
pequena empresa. Ela também exporta, mas é a cadeia da esteira da
promoção e da cadeia de exportação”, afirmou o diretor-presidente do
Sebrae, Carlos Melles, que lembrou ainda que o segmento gera mais de 55%
dos empregos formais do país.
O secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais
do Ministério da Economia, Roberto Fendt Junior, disse que é necessário
promover a ampliação da atual rede de acordos para evitar a
bitributação. Atualmente, a rede cobre o equivalente a 60% das
exportações brasileiras e 55% das importações. Se negociados acordos com
Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido (que conjuntamente equivalem a
17% das exportações e 24% das importações), esses percentuais
alcançariam 76% de cobertura para as exportações e 79% para as
importações.
OCDE
O secretário defendeu que a mobilização do Brasil pela entrada na
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) ajudará a
ampliar as exportações brasileiras de serviços. A estratégia está
ancorada em pilares como o combate às barreiras não tarifárias, a
reforma da estrutura tarifária do comércio exterior brasileiro e a
negociação de acordos internacionais.
“Cumprir com as diretrizes e códigos da OCDE, para além de ser
requisito para acessão do país à organização, é também um impulso que
ajuda o Brasil a mover sua economia na direção desejada. Todos os
protocolos a que o Brasil está aderindo terão impactos transversais e
devem provocar melhorias sistêmicas em toda a economia do país”,
garantiu Fendt.
A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos
(Apex-Brasil) apoiou quase 15 mil empresas ao longo do ano passado, 52%
delas eram micro e pequenas empresas. Ao todo, a Apex-Brasil tem 51
projetos setoriais de escopos variados, desenhados especificamente para
cada segmento, são a principal ferramenta de promoção comercial da
Agência. Três desses projetos são voltados aos serviços de tecnologia,
com orçamento total somado de mais de R$ 28 milhões.
O presidente Sérgio Ricardo Segovia Barbosa afirmou que atualmente a
instituição apoia quase 400 empresas nacionais visando ao
desenvolvimento de negócios globais para o setor de serviços, com
resultados promissores de mais de U$ 600 milhões.
Setor privado
Uma das cinco oficinas de manutenção e revisão de motores
aeronáuticos da GE no mundo, a Celma é hoje um dos maiores exportadores
globais. Mas nem sempre foi assim. O presidente da companhia, Júlio
César Talon, contou que em 2002, 38% da produção eram para o mercado
internacional. A jornada de sucesso veio após um grande esforço:
melhoraram o tempo de entrega e reduziram os custos em 77%. Só em 2011
começaram a montar motores novos no Brasil. O maior negócio da GE na
América Latina completa sete décadas esse ano. Da carteira de clientes,
96% são do exterior – 50% dos Estados Unidos -, e o maior cliente é a
Latam.
Na visão do vice-presidente do Setor Privado no Banco de
Desenvolvimento da América Latina (CAF), Jorge Arbache, há algo mais
sofisticado do que as manufatureiras incorporarem serviços aos produtos
ou venderem serviços como parte do que comercializam. Trata-se do
advento de tecnologias de produção fortemente intensivas em tecnologias
digitais – tais como robôs e impressoras 3D – e tecnologias digitais de
gestão da operação, que permitiriam que as empresas pudessem produzir e
coletar enormes quantidades de dados associados ao desenvolvimento,
produção e comercialização. A servicificação e as tecnologias digitais
andam de mãos dadas, segundo Arbache, e uma impulsiona a outra.
”A adoção de tecnologias avançadas não garante maior competitividade e
participação de empresas e países nos mercados em razão da
popularização do uso daquelas tecnologias. O que parece ser decisivo
para impactar a competitividade e o crescimento econômico e empresarial é
a capacidade de inovar, desenvolver e gerenciar aquelas tecnologias,
bem como o destino que se dá às mesmas”, disse Arbache.
O fomento às exportações por meio da desoneração dos tributos nos
serviços utilizados nos processos produtivos foi o tema da palestra da
gerente de Diplomacia Empresarial e Competitividade do Comércio da
Confederação Nacional da Indústria (CNI), Constanza Negri Biasutti,
apresentou um programa formulado pela entidade de redução dos tributos
das importações e aquisições de serviços utilizados por exportadores de
bens industriais. Pela proposta, haveria uma queda de 2% a 4,6% no custo
monetário dos tributos PIS/COFINS, ISS e Cide-Remessas, o que
representaria uma redução nos custos das exportações de bens de R$ 18 a
R$ 41 bi. O programa seria compatível com as regras da OMC. Segundo
Biasutti, a adoção da proposta da CNI pelo governo aumentaria a inserção
internacional do Brasil no mercado global.
“A cada US$ 1 que o Brasil exporta em bens manufaturados, US$ 0,40
são de serviços”, disse o subsecretário de Operações de Comércio
Exterior da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia,
Renato Agostinho da Silva. Estudo de benchmarking internacional em
Acordo de Cooperação Técnica entre o Ministério da Economia e o Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) mostra que 10
integrantes do G20 adotam desonerações a serviços no âmbito dos regimes
de processamento de bens pesquisados, todos com tributação sobre valor
agregado e ampla creditação e compensação.
Segundo Agostinho, o Ministério da Economia tem trabalhado em uma
proposta envolvendo a extensão dos benefícios dos atuais regimes
Drawback, RECOF e RECOF-ESPED a serviços importados ou adquiridos
localmente para exportação de bens, a qual será objeto de debate com o
setor privado. Ele lembrou que o país passa por uma dura realidade
fiscal, especialmente por conta da pandemia. Mas garantiu que a ideia do
Ministério da Economia é, gradualmente, reduzir o custo da aquisição de
serviços e, com isso, aumentar a variedade e a qualidade dos serviços
para o exportador alcançar maior competitividade.
Abrindo os trabalhos no período da tarde, o analista de
Competitividade do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (Sebrae) Gustavo Reis Melo apresentou três cases de sucesso em
exportação de serviços: Ana Pires, sócia da Softex, Antonio Fascio, da
OrçaFascio e Leonardo Nogueira, da Prosperi.
A palestra do superintendente da Área de Inovação 2 da FINEP,
Maurício Alves Syrio, apresentou os números do fomento à ciência,
tecnologia e inovação. Nos últimos 10 anos, a Finep apoiou 3.500
projetos, aplicando mais de R$ 35 bilhões. A instituição apoia 8 das 10
empresas mais inovadoras do país, com linhas de crédito operadas de
forma direta – para empresas com faturamento acima de R$ 16 milhões – e
indireta – empresas com receita de até 90 milhões, em projetos de até 10
milhões. A abrangência da inovação pode ser empresarial, setorial,
nacional ou mundial, não importa. Segundo Syrio, quanto mais inovador e
mais arriscado o negócio, maiores são as condições de apoio.
Confinado em sua casa em Montevidéu, no Uruguai, por conta da
pandemia da covid-19, o secretário geral da Associação Latinoamericana
de Exportadores de Serviços (ALES) se percebeu pensando nos próximos 20
anos e decidiu desenvolver uma pesquisa sobre o futuro do setor de
serviços, do qual é um dos maiores especialistas na América Latina.
Javier Peña Capobianco entrevistou mais de 70 líderes globais e
regionais e concluiu que a chave para o sucesso das empresas prestadoras
de serviços está na interseção da tecnologia, dos modelos de negócios
e, acima de tudo, do ser humano e seu meio ambiente. Empresas, em todos
os segmentos, gerarão oferta cada vez mais intangível por meio de
modelos sob demanda e soluções para maximizar a experiência do cliente.
A pesquisa do secretário geral da ALES mostra a tendência de trabalho
colaborativo entre todos os atores do ecossistema – governos, empresas,
sindicatos, academia e indivíduos. “As decisões sobre quais locais
considerar serão cada vez mais flexíveis, incluindo não apenas países e
cidades, mas também a nuvem, por meio de sourcing virtual. Portanto, é
esperado um crescimento de multisourcing, aposta Capobianco, que
lançará um livro sobre esse trabalho nas próximas semanas no Uruguai com
o título (em tradução livre) A Nova Era de Serviços Globais.
Sobre as estatísticas do mercado, o subsecretário de Inteligência e
Estatísticas de Comércio Exterior do Ministério da Economia, Herlon
Brandão, disse que a fonte primária das informações é o Banco Central,
que compila os dados de exportação e importação de serviços para fins de
balanços de pagamentos, seguindo a metodologia do FMI. “Existe um
ecossistema de recomendações internacionais para estatísticas oficiais,
tanto para comércio exterior, quanto para estatísticas nacionais”,
afirma Brandão.
No mesmo painel, o coordenador de Acesso a Mercados da Secretaria de
Comércio Exterior do Ministério da Economia, Paulo Guerrero, explicou
que a crescente servicificação da economia pode ser constatada quando
vemos que o setor de serviços corresponde a 20% do comércio global.
Segundo ele, as negociações internacionais de serviços criam regras
justas e equitativas para o comércio de serviços entre as partes,
reduzindo as barreiras enfrentadas por prestadores de serviços.
Agronegócios
No início da década de 70, o Brasil vivia uma situação de insegurança
alimentar. Foi o que contou o presidente da Embrapa, Celso Luiz
Moretti. As políticas públicas eram insuficientes para o desenvolvimento
agrícola, mantendo a produção baixa e concentrada nas regiões sul e
sudeste. O país era conhecido apenas como produtor de café e açúcar,
sofria uma crise de abastecimento e pobreza rural, importando alimentos
básicos, como leite, feijão e carne, dos Estados Unidos, México e países
europeus, respectivamente.
A partir da criação da Embrapa, em 1973, foi criado um sistema de
inovação da agropecuária, abrindo caminho para um setor ágil e
empreendedor. Em menos de cinco décadas, o país saiu da insegurança para
se tornar o maior celeiro de produção, e criou um modelo sustentável e
competitivo de agricultura tropical sem paralelo com o mundo. Entre as
principais mudanças, segundo Moretti, destacam-se o crescimento da
produção de grãos em 509%, o aumento da produtividade do setor florestal
em 140% e a alta de 65 vezes nos números da produção de carne de
frango.
Soft power
No painel do presidente da Associação Nacional da Indústria da Música
(Anafima), Daniel Neves, foi abordado o conceito de soft power. O termo
é utilizado quando um país usa sua cultura ou economia para estimular a
colaboração de outros países nas relações internacionais. Esse controle
da imagem positiva torna os produtos e serviços produzidos internamente
mais “simpáticos” à compra. Como exemplo, Neves citou a influência
positiva do K-pop, gênero musical sul-coreano, sobre a imagem do país,
principalmente para as novas gerações.
O Brasil sempre faz uso de programas para reerguer a imagem e retomar
a um passado glorioso em algum âmbito, seja ele cultural, econômico,
político, científico, etc. Já o lado estereotipado, que parte da
impressão dos outros países, enxerga uma nação alegre, divertida e
mágica, onde é carnaval o ano inteiro.
“O perigo, porém, é quando acontece o contrário do soft power e esse
estereótipo é utilizado na guerra comercial. O mundo inteiro valoriza a
floresta brasileira, mas o desmatamento e as queimadas são colocados
como justificativas para atacar a imagem de potência agrícola e a um
possível boicote na compra de soja e carne, por exemplo”, disse Neves.
O presidente executivo da AEB, José Augusto de Castro, encerrou o
Enaserv lembrando que a exportação de serviços no Brasil é ainda muito
pequena e que é necessário reduzir o custo Brasil para melhorar a
competitividade das nossas exportadoras.
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