segunda-feira, 21 de dezembro de 2015
Estado Islâmico declara guerra à coligação liderada pela Arábia Saudita
Mohammad bin Salman al-Saud, ministro da Defesa e segundo na linha de sucessão na Arábia Saudita, anunciou na semana passada coligação de 34 países | EPA
"Conluio de cruzados" ou "bando de parvalhões". Assim classificam os jihadistas os 34 países aliados de Riade na coligação islâmica contra o terrorismo
Acusada por alguns de ter criado aquilo que é hoje o grupo terrorista do Estado Islâmico, a Arábia Saudita anunciou na semana passada a formação de uma coligação islâmica contra o terrorismo, que inclui 34 países de África, Ásia e Península Arábica (como Turquia, Paquistão, Jordânia ou Egito). Agora, o Estado Islâmico respondeu, ameaçando atacar o reino e declarando guerra contra o que diz ser "um conluio de cruzados" e um "bando de parvalhões".
Numa das suas publicações, citadas pela agência Reuters, os jihadistas escreveram num artigo: "Com a permissão de Allah esta aliança será o princípio do colapso de todos os governos de tiranos opressivos em terras do islão". Num outro criticavam a participação de alguns rebeldes sírios num encontro em Riade, capital saudita, o que, de acordo com a sua visão, prova que são "descrentes".
Será em Riade que ficará baseada aquela coligação de 34 países, segundo anunciou o ministro da Defesa da Arábia Saudita e segundo na linha de sucessão, Mohammad bin Salman. O facto de já existirem duas coligações contra os jihadistas do Estado Islâmico, uma liderada pelos Estados Unidos (que inclui países como Portugal), outra encabeçada pela Rússia (que inclui combatentes do Irão e Hezbollah), fez com que surgissem de imediato questões sobre a coordenação. E sobre a ausência dessa mesma coligação do Irão, Iraque ou Síria, algo que é visto como tendo potencial para intensificar ainda mais a divisão entre sunitas e xiitas.
Num comunicado que foi emitido na semana passada, os 34 países afirmam que decidiram formar "uma aliança militar liderada pela Arábia Saudita para lutar contra o terrorismo e com um centro conjunto operacional sedeado em Riade para coordenar e apoiar as operações militares". Segundo o texto, a coligação baseia-se no Alcorão e na lei islâmica "que rejeita o terrorismo em todas as suas formas e manifestações porque é um crime hediondo e uma injustiça". De acordo com Bin Salman, "a coligação não se limitará a combater o Daesh [acrónimo em árabe do Estado Islâmico] mas qualquer grupo terrorista que nos faça frente".
Numa reação inicial, o secretário da Defesa norte-americano, Ashton Carter, disse que os EUA estão "ansiosos para saber mais sobre esta coligação" que, em geral, "parece estar em linha com algo que temos vindo a exigir há algum tempo, que é um maior envolvimento dos países árabes sunitas" contra o Estado Islâmico. O primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, afirmou que esta era "a melhor resposta para aqueles que estão a tentar associar o terror ao islão".
Apesar do esforço da comunidade internacional, nem tudo são rosas nas intervenções feitas por via aérea pelas várias coligações. Ontem o Pentágono admitiu a eventual responsabilidade da coligação dirigida pelos EUA no ataque aéreo que matou, por erro, vários soldados iraquianos na sexta-feira em Fallujah (a oeste de Bagdad). No mesmo dia, o Observatório Sírio dos Direitos Humanos indicou que os ataques russos terão feito 36 mortos em Idlib (Síria). "Os raides aéreos, provavelmente russos, visaram antigos locais do regime, usados pelo Exército da Conquista", aliança de várias milícias jihadistas, como a Frente Al-Nusra e o grupo islamita Ahrar al-Cham, indicou, em declarações à AFP, o diretor daquela observatório, Rami Abdel Rahmane.
"O ocidente arrisca-se a criar uma estratégia do fracasso se se concentrar apenas no EI. Derrubá-lo militarmente não vai acabar com o jihadismo global. Não podemos bombardear uma ideologia, mas a nossa guerra é ideológica", avisa um relatório do Centre on Religon and Geopolitics, ligado à fundação de Tony Blair e ontem divulgado pelo jornal 'Telegraph'.
Fonte: DN Portugal
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