Diario Do Nordeste
Porto do Pecém, Porto do Mucuripe e Aeroporto de Fortaleza, juntos, formam uma arrojada infraestrutura para escoar a produção da indústria e da agropecuária cearense - e também nordestina - para o exterior. São equipamentos que, tendo recebido grandes volumes de investimento, já têm capacidade para transportar bem mais cargas do que fazem hoje. O que falta, portanto, para o Ceará crescer mais em termos de logística?
O diretor da Nova Era Aduaneira, Hermes Monteiro, que também coordena a Expolog 2020 - Feira Internacional de Logística e Seminário Internacional de Logística, explica: demanda. O parque industrial do Estado, ainda que tenha crescido substancialmente nos últimos anos, ainda é pequeno. Uma única empresa, a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), é responsável por mais da metade das exportações cearenses - o que sim, demonstra a grandiosidade do empreendimento, mas também o ainda relativamente pequeno volume de exportação do setor produtivo local.
Uma das missões do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp), inclusive, é justamente o de atrair novas indústrias para se instalar na Zona de Processamento e Exportação (ZPE Ceará), incrementando a movimentação de cargas e gerando mais riquezas. Mas a resposta não se limita à atração de grandes negócios: um desafio do Estado é estimular que as pequenas e médias empresas também passem a exportar suas mercadorias.
"Nós já temos uma estrutura portuária e aeroportuária que tem capacidade de atender mais. O que nós não temos de fato são empresas que tenham cargas suficientes para botar para exportar. Essa é uma realidade. Isso gera o entendimento que nós ainda não temos uma cultura exportadora. Os micro e pequenos empresários não conseguiram entender que o mercado já não é mais o mercado do bairro, da cidade. Não há mais fronteiras. Mas esse é um processo que requer um preço, uma preparação", reflete Monteiro.
Pequenas e médias empresas
Segundo dados da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), no ano passado, somente cerca de um terço das exportações brasileiras (32%) foi realizado por micro ou pequenas empresas. Em termos gerais, no ano, o volume exportado pelo Ceará entre janeiro e novembro de 2020 (US$ 1,7 bilhão) foi o terceiro do Nordeste, bem atrás da Bahia (US$ 7 bilhões) e do Maranhão (US$ 3 bilhões).
No contexto da pandemia, exportar pode ser inclusive uma alternativa para que os pequenos negócios aumentem o faturamento. O processo envolve uma análise de mercado para identificar onde se tem maior potencial para fazer negócio - e o Mapa Estratégico Apex-Brasil de Oportunidades Comerciais é um bom caminho -, a avaliação dos custos logísticos e um apoio jurídico para entender as leis de outros países e elaborar contratos.
Há um esforço conjunto de órgãos como Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e Federação do Comércio do Ceará (Fecomércio-CE), juntamente com a Academia, para incentivar a internacionalização das empresas e impulsionar o volume de negócios do Estado, que tem potencial para ser bem maior. O caminho envolve identificar gargalos das empresas e a criar uma ambiência de negócios - mas ainda é preciso mais para alavancar, de fato, a participação das pequenas e médias empresas.
Ligações diretas
O aumento de volume das exportações é também um trunfo para ampliar a conectividade de rotas de transporte de cargas aos portos e aeroporto cearense, beneficiando toda a cadeia produtiva. Sem uma expressiva quantidade de mercadorias para transporte, menos atrativa se torna a localidade.
"Hoje, a gente tem uma dificuldade de navio. Os navios passam obrigatoriamente em Santos, depois sobem em cabotagem. Precisamos ligar o Brasil à China, aos Estados Unidos. Não adianta vir aqui por 10, 20, contêineres, tem que ter volume. O Pecém tem capacidade de trazer cargas de todo o Nordeste, mas falta intermodalidade. A rodovia ainda é ruim, a malha ferroviária ainda não tem", pondera Monteiro.
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