quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Novo fechamento pode aumentar demissões e falências para comércio e serviços, dizem entidades.

Isabela Bolzani
Folha de São Paulo

Pequenos e médios bares, restaurantes e lojas se organizam para reduzir operação em vez de suspendê-la novamente
Sem a ajuda dos programas emergenciais do governo e com a
possibilidade de uma nova onda de coronavírus no país, empresários
dos setores de comércio e serviços se organizam para operar com um
orçamento mais enxuto para 2021.
 

Se o fechamento total das lojas, bares e restaurantes for aplicado
novamente, a projeção é que as empresas de médio e pequeno porte
possam sofrer um novo sufoco financeiro, com risco elevado de
aumento de falências e demissões.
 

Segundo o vice-presidente da CDL (Confederaçáo de Dirigentes
Lojistas) do Bom Retiro, Nelson Tranquez, os empresários já começam
a organizar seu fluxo de caixa e trabalham para conter gastos, com um
quadro enxuto de funcionários e produção e estoques menores.
"Todo o mundo se adaptou para seguir em frente apenas com o
mínimo necessário, exatamente para não ter nenhum problema, pois
se tiver um novo problema, não vai ter de onde tirar para se socorrer",
afirma.
 

O conjunto de medidas emergenciais elaborado pelo governo para
tentar conter os impactos da pandemia —linhas de crédito como o
Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas
de Pequeno Porte) e o Peac (Programa Emergencial de Acesso ao
Crédito) Maquininhas— São parte do Orçamento de guerra, que acaba
em 31 de dezembro.
 

O Orçamento de guerra foi estabelecido no primeiro semestre com o
objetivo de separar os gastos extraordinários do governo com o
combate à pandemia dentro do Orçamento da União.
A PEC (proposta de emenda à Constituição) pela qual a medida foi
promulgada afrouxa exigências de controle no uso dos recursos
públicos, de maneira a dar mais espaço para a criação e expansão de
ações econômicas por parte do governo para diminuir os impactos do
novo coronavírus.

Tranquez afirma que, principalmente no início do ano, a tendência é
de fluxo de caixa ainda menor, pois as vendas em janeiro e fevereiro,
historicamente, São mais baixas.
"Isso também significa que mesmo que a empresa consiga crédito, os
juros ainda podem ser um problema tendo em vista o baixo volume de
vendas", disse.
Ainda segundo especialistas, caso uma segunda onda de coronavírus
ocorra com força, restringindo ainda mais o funcionamento de lojas,
bares e restaurantes, haverá impactos negativos sobre as vendas de
Natal.

"É complicado porque, neste cenário, o Estado arbitra onde precisa.
Um lojista consegue controlar questões como distanciamento para
evitar aglomeração, oferta álcool em gel e circulação dentro do seu
estabelecimento, mas da porta para fora não tem como", afirma o
economista Fábio Pina, da FecomercioSP (Federação do Comércio de
Bens e de Serviços do Estado de São Paulo). "Os números [de novos casos] não estão subindo por causa do comércio, mas porque aumentou o número de pessoas andando na rua, indo a clubes, jogos de futebol e indo a festas", diz Pina. "E náo vai resolver só levar uma bronca de policial, pois o vírus não existe apenas em horário comercial."


Segundo o presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e
Restaurantes), Percival Maricato, a volta das restrições em São Paulo e
a possibilidade de uma nova onda preocupam o segmento,
principalmente por causa das perdas de estoques.


Em junho, quando o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, atrasou a
reabertura de bares e restaurantes, a associação já havia alertado para
possíveis prejuízos adicionais porque grande parte dos estoques é
perecível.


"Agora, de novo, muita gente pode acabar perdendo o dinheiro que
investiu na reposição dos estoques na expectativa de faturar mais neste
final de ano", disse Maricato.


O presidente da Abrasel afirma ainda que, caso esse cenário se
perpetue, o setor vai fazer novas demissões e sofrer um número maior
de falências.


"Até agora o segmento perdeu 30% das empresas. Muita gente fechou
completamente porque não consegue arcar com os custos de manter
um estabelecimento parcialmente operante", afirma Maricato.
"Considerando ainda que 2021 começa com o retorno de muitas
dívidas adiadas, com o pagamento de empréstimos bancários, aluguel
pleno e impostos, o número de demissões e fechamentos pode
aumentar."


A última esperança, segundo Tranquez, é a chegada de uma vacina.
Nesta terça-feira (8), o Reino Unido se tornou a primeira nação do
mundo a aplicar uma vacina que passou por todas as fases de testes e
foi clinicamente autorizada, produzida pela farmacêutica americana
Pfizer com a alemâ BioNTech.


"Isso é o mais importante. A partir do momento em que as pessoas
consigam se vacinar, a expectativa é de um salto nas vendas", diz o vice-presidente da CDL Bom Retiro. "O consumo está muito represado, com todo mundo preocupado com a economia, segurando o máximo que
pode. Isso dá uma esperança."

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